Filosofias políticas: por que as pessoas ainda seguem o absurdo?


Texto de abril de 2020

Será que era comum a relativização de atos imorais, normalização de discursos insólitos, e compactuação com o desapreço indireto e ás vezes direto e constante à constituição? Muitas indagações à serem feitas diretamente aos dirigentes do país em que se passam tais anormalidades, que viveu desde seus primórdios, passando pelo curso de diferentes políticas, correntes ideológicas, perfis individuais entre outras características intrínsecas de suas determinadas instâncias. 

Quando a república foi instaurada no Brasil em 1889, tivemos um ponto de partida para as diferentes histórias das distintas políticas institucionais que se passaram até chegar no hoje, 2020.


Trazendo pra contemporaneidade, o Brasil está sob o comando de um chefe de estado que é por si só, sua própria oposição. Porém, não é algo que se mostre perceptível à alguma parcela da sociedade civil. Parcela essa que se mantém intacta e alheia à constantes discursos depreciativos e insolentes que gradualmente vão destrinchando a harmonia entre instâncias tanto políticas, como sociais. 

É uma espécie de caos necessário onde o único beneficiário de sua instauração é o agente máximo do poder, visando sorrateiramente reafirmar a velha política do 'nós contra eles', e legitimar a necessidade de ações mais enérgicas para se manter no poder, através da vitimização artificial, onde cria para sua parcela de seguidores a sensação de perseguição obstinada contra sua governabilidade, seja vindo da imprensa, seja vindo dos outros dois eixos do sistema político: o Legislativo e o Judiciário. 

Tal ato pode ser considerado comum aos olhos de quem acompanha política com mais tempo, contudo, nunca antes se viu a normalização do absurdo. Não aquele absurdo que passava quase que despercebido pelo cidadão, vindo de esquemas de corrupção, processos penais dolorosos e entediantes com todos aqueles termos jurídicos para evidenciar os crimes cometidos. Mas sim, o absurdo que é falado em alto e em bom som para todo brasileiro, leigo ou não, entender o quão desnorteados estamos sob a não-liderança do que ocupa o cargo máximo da hierarquia. 

Não se combate uma crise com sorrisos eleitorais, e passeatas em favor seja lá do que for. Ainda mais em um tempo de um colapso quase que iminente na saúde e crise sanitária, advinda de um inimigo invisível que se espalha como as concepções de um pseudo-político populista, quase que baseado no estilo caudilhista de se liderar, que paira de uma ignorância espontânea tentando ganhar a confiança de ignorantes - às vezes - não espontâneos.

A razão para essa visão desestabilizada dessa parcela que normaliza o anormal, vem de uma certa responsabilidade e culpa de outras personalidades que passaram pelo controle da república, provando que, a política corrompe o povo, assim como à si própria. O povo havia dito que se cansou. Se cansou de ser vítima da espécie de 'cleptocracia' instalada por governos recentes, e instituíram na imagem do grito, das muitas palavras de ordem e das poucas resoluções técnicas, o perfil do libertador da pátria. 

Em outras palavras, a desafirmação de governos anteriores, trouxe o imediatismo do sucessor, tirando deste a obrigação de se afirmar enquanto agente do Estado. E mais uma vez o povo parece que foi enganado. Mas por que alguns deles não perceberam? Por que alguns deles seguem nesse caminho que já se demonstrou, em menos de 2 anos, ser o caminho equivocado? 

A resposta pode estar em vários aspectos. Montesquieu, em Espírito das Leis, já denunciava que "o povo cai em desgraça quando aqueles em quem confia, procurando ocultar sua própria corrupção, buscam corrompê-lo". 

Complementando, o que mais chama a atenção, é o fato de que as pessoas enxergam na política um aspecto binário. Um espaço onde ou é, ou não é. Onde se eu não escolher aquele lado, eu estou ao lado do inimigo. Espaço esse em que o indivíduo se vê preso à amarras políticas e de ideais, mas para ele, tudo bem, desde que ele tenha a falsa convicção de que está do lado certo, por que tem absoluta certeza que o outro lado é errôneo. 

É o mesmo distúrbio social que fez com que se relevasse inclusive atos corruptos de diferentes governos. Em outras palavras, a escolha política se transformou numa relação como a de um torcedor com seu time de futebol por exemplo, onde não importa o quanto ele erre e perca, mas no fim você vai estar com ele, independente se o seu rival está melhor.

É necessário desamarrar o pensamento dualista do cidadão, ainda que difícil seja, para que a democracia possa se estabilizar enquanto sistema, posto que é nela que há a maior necessidade de conhecimento e de constante aprendizado, visto que o erro que você, antes calado por políticas coercitivas, venha a cometer, afetará a vida de todo um conjunto de indivíduos não só por 4 anos, mas por um período indeterminado, dadas as circunstâncias.

Pode se culpar a própria democracia por essa eclosão de uma espécie de irracionalidade normalizada, de modo que pensadores como Sócrates assim o faziam, mas há de se lembrar de uma frase expressa por Winston Churchill que acaba resumindo toda a discussão acerca do assunto: ''A Democracia é o pior sistema político, com exceção de todas as demais". Portanto, a explicação pode e deve ser bem mais ampla do que um mero texto, visto que a disfunção político institucional vem de décadas, assentadas em razões maiores do que questões parcialmente simplistas.

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